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29-12-2009

.há.muito.tempo.

até sempre é uma serpente.
enrolada ao meu pendente.
pescoço de homem cego.
e o medo é uma coragem parecida.
à viagem que eu temo sem pavor.

uma dor parecida a esta,
só aquela que me resta do Amor.

breve rasgo de emoção,
sentirei na tua mão,
se um dia te encontrar.
encostada a uma paragem,
como que a pedir viagem.
que faremos na serpente.
enrolada ao meu pescoço.

soube hoje de repente.
de deitado em minha cama.
duma lança já espetada.
no meu peito.
e eu feito. corpo morto.
já de cego e todo torto.
esquecido e enrugado.
encharcado em ilusões.

abraçarei melhor mulher.
se à janela ela vier,
dizer-me coisas a respeito
de tudo aquilo que eu já sei.

é uma merda, a consciência.
se é fodida essa insistência
e a certeza das palavras.
é um saber. é um esperavas.
e eu não espero.
encontrei-te.

há muito tempo.

19-12-2009

.contas.

com duas contas de somar eu chego à densidade do teu beijo

e é aqui que eu vejo que não é mais que uma mão apertada à garganta

da mulher que canta acordada e uma mão apertada uma a outra.

 

diz-me se te vou buscar ainda hoje, ou mais logo

para irmos embora desta terra lamacenta e sendenta de Sol.

deixa-me Só esta noite para que passe contigo o resto das noites que restam.

e eu quero ver-te para sempre a meu lado.

idade

quando eu for mais velho, lembra-te da minha qualidade maior e embrulha-me o corpo ao teu peito, a jeito de nos vermos ao espelho enrolados para sempre. quando a fome te assolar as ideias de seres o que sonhas, dá-me um só gesto, que o resto eu levo na mala. quero um porto e um barco. quero uma margem vazia de gente e uma baía cheia de risos de luz. hei-de sentir saudades daqui. hei-de levar-te comigo e sermos um dia aquilo que queremos ser hoje, mas sempre. mas longe daqui.

15-12-2009

Fleet Foxes - He Doesn't Know Why

Fleet Foxes - He Doesn't Know Why from Grandchildren on Vimeo.

08-12-2009

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Não temas meus olhos que temo eu os teus. E a idade até mata o olhar e o gesto infantil do meu medo. É no fim desta história que eu espero encontrar-te mais perto daqui. Numa rua amarela e arrumada de ideias que levo para nós. Num país sem idade e numa cidade com um rio como certo. E as músicas todas que eu sei. Havemos de ir.

marta

Vi-me ao lado de Marta

e encontrei a razão

de encontrar-me a seu lado amanhã,

outra vez,

como ontém.

05-12-2009

claros II

clara, a tua pele, o cabelo.
claros os teus olhos, a luz.
raio escuro e claro de sol.
o teu corpo. não meu.
claro que olho,
que vejo e que olho nos olhos,
nos teus. claro.
Clarisse, o teu nome.

dormir para sempre

faço-me de forte e tapo os ouvidos. disfarço-me de normal. e visto uma saia. puxo-me os cabelos só com o medo de acordar. temo a vida como os outros temem a morte. sonho morrer durante o sono só para não ter de viver outro dia. onde falharam os meus pais ao protegerem-me das coisas? protegendo-me das coisas! quem me dera ser como tu, que sabes que és assim. gostava de não fingir e dormir novamente contigo.

. . .

rominar acções controladas pelos jeitos das carnes no prato. encontrar-te aos pedaços desfeita na rua encostada ao meu carro, ou no chão e em bocados. juntar-te os pedaços e levar-te para longe!

29-11-2009

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quanta crueldade se encontra nas palavras que não dizemos e dizemos mais tarde quando o tempo devia calar o que nos vai na mente, no coração que é já calmo e nas ondas do mar. quantos gestos desfeitos e palavras escritas, mortalhas, papéis enrolados que eu não guardo para sempre, que me enrolam as voltas que a cabeça me dá. quantos dias nos faltam para sermos de novo os dois corpos escritos e feitos para sempre? quanta gente me falta que me encha a mente de ideias diferentes das tuas e que eu veja na rua outra luz que não tu? quantos olhos os olhos que vejo me farão ver mais de perto a certeza que tu ainda és para mim? quantas mais vezes terei eu de calar o que me vai aqui dentro para que a crueldade do teu silêncio me faça calar para sempre também?