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16-10-2007

oeste

Ali estava eu.
Vulgarmente deitado,
Encontrado no chão
Da luz só me lembro da cor
Era amarela e seca
Mas brilhante
Do som esqueci-me.
E a cruz eras tu

Caminhei por entre o nevoeiro
(tinha-se instalado sem querer sob a estrada)
E a areia molhada
Eu temi
Mas prolonguei a estada

E fui longe ao Oeste
Procurar-me na luz
Ou pedir-lhe que empreste
Ao passado urgente uma réstia de gente
Da sua. Ou a lua que vejo daqui
Invejo estas ruas
Encharcadas de luz
Não ouço lamentos
E aos ventos do Oeste
(que humidade produz)
Não parem.
Para sempre.

e u

Sou um Ego sem ego
Só vácuo cá dentro
Uma mão em aberto
Tão cheia de nada
Sou eco em aberto
Ou um som que ecoa
Discreto num dia
De nuvens no céu
Sou as paredes vazias da casa
Sou uma asa arrancada
Sou o fardo nas costas da mulher cansada
Sinto enfado
Sou o papel que é rasgado
E o texto esquecido
Não lido nem escrito
Mesmo assim sou bonito
E o que sou ou não sou
Não é dito em versos alados
Cairia eu no erro de me descrever
Em palavras tão vãs
Como aquilo que penso de mim nesta hora
Muito embora admito:
Sou… Eu

15-10-2007

carradas de coisas

Câmaras escuras furadas
Fotogramas acesos
Luzes apagadas
Nos vasos as flores
De jeito e a jeito poria
Não fosse o saber enquadrado
E o chão dessa estrada
Ou a construção desenfreada
Estilhaço de alma quebrada
Papel de parede colado a ilusões
E alusões às imagens passadas
Entrada pujante assente na lama
Chama vazia tão fria
As estrelas são negras
Como o carvão nesse cal
E a vontade é igual
O jantar está servido
E o líquido vertido
Na mesa dois pratos
E os copos com água
Os caixotes à parede encostados
Os papéis manuscritos descritos
Até ao mais ínfimo pormenor
E a dor é de agora em diante
A única certeza que temos
Viveremos. Avante!

02-08-2007

o que foi

se fosse escrever sobre a terra, nao cheirava a molhado que fosse. e se fosse escerver sobre o mar talvez uma réstia de areia que fosse e cheirasse a verão. se fosse escrever sobre a luz e qual luz me entraste nos olhos. mas se fosse ao que resta daquilo que lembro, escrevia acordado uma vida tudo aquilo que vi...

09-05-2007

debaixo da cama

Encontrei debaixo da cama toda uma multidão de seres e coisas que eu vira numa outra encarnação. Eram na certa os meus entes mais queridos, mais fortes que o medo de voltar a viver. Eram na certa as canções que eu nunca cheguei a cantar.
Debaixo da cama estarão até hoje as noites dormidas lá fora, dentro e fora de casa, ou as horas passadas a pé. Estão os dias e as tardes perdidas com as pantufas ao pé do medo de olhar para debaixo daquele local que é a cama onde escrevo todas as noites antes de dormir… Dormirei esta noite por cima do que está debaixo da cama.

07-05-2007

nas horas

Fatiguei-me de esperar pela emoção das coisas
E encontrei na palavra contida a comoção dilatada
Das horas todas.

29-04-2007

o que resta

Que saltem à vista tais olhos
Que me olhem em breve a cantar
É seguro o passo que dás ao andar
Da voz são só queixas, não há muito a fazer
Efémeras aproximações corporais
Nada mais.

Não toquemos no assunto
Que incomoda acordar o defunto
Da terra só vem humidade
E pujança é verdade.
Outros tempos, com sinceridade

A enxada e a vida nas mãos do Homem.

Consome-se assim a réstia de actividade
Presente nas veias
Tais teias de aranha
Em cheiro de cave profundo
Fundo o fosso apertado
Entre a vivência, o fulgor
E a experiência de vida
Acertada nem sempre
Mais perto do fim, afinal
Finalmente atingir até nunca.

Sentado à beira de casa
À porta esperar no eterno
O dia é passagem amarga
Das horas, das duras,
Das longas do sino, da gente que passa
Deixar nada a não ser a passagem
Conforme a estação
E a aragem…

Numa mão está a dor
Na outra toda a encruzilhada
E na cabeça já nada.

O Homem nas mãos duma vida acabada.

25-03-2007

quantos são os aKtos?

De quantos aKtos se faz um prato
Bem nutrido e condimentado?
De quantas formas se faz uma forma
De bolo, daqueles que vão ao forno?

De quantos acenos se faz um apelo
Dos graves, dos ternos e preocupados
De quantos fumos se faz o engomo
Da roupa, de pano, ou da boca de um estranho

E é de estanho o sabor a amargo
Da língua, da boca, que deixa no corpo
De dentes no chão não ferrados na pedra

E a merda é que tudo isto sabe tão bem
Que amanhã vai voltar a doer
Mas os aKtos são quantos? Nem quero saber

questões

Há uma série de questões que eu gostava de rebater. Não sei se sozinho, não sei se com quem. São questões não muito prementes, muito menos são assuntos quentes. Mas escaldante se torna a minha mente se não rebater urgentemente toda esta confusão de questões não-urgentes.
Acérrima discussão eu teria, não sei se sozinho, não sei se com quem. Mas uma tarde inteira rebateria todo e qualquer assunto urgente, premente, ou simplesmente diria. Que há uma série de outras questões, que não estas, que eu gostaria de rebater…
Ou então tenho mais que fazer.

25-02-2007

dias normais

São dias normais sem a normalidade de sempre
Sem o normal regaço desejado
Sem a normal anormalidade das coisas
Das nossas

São dias normais, com as coisas estranhas
Que se vão passando sem que o tempo passe depressa
Sem o tempo a cair e a andar para a frente
Sem o quente a fazer-se. Só frio.

São dias normais sem o melhor acordar
Tão familiar se tornou
Sem o levantar humorado conforme
Tão bom. Aqui é levantar porque sim

São dias irritantemente normais
Sem as irritações já banais
Com isto e aquilo,
Nunca o Isto e o Aquilo que interessem

São só dias normais, os dias a mais
Espero dias dos tais
Quero mais
Quero os dias normais!