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06-06-2012

(ur)gente

cabeça de cavalo encurralada na mente. e o meu corpo dormente. a casa cheia de gente e o assunto é urgente. dormes aqui, agora comigo. e ali fora ao teu lado, os pássaros cantam em manhã e alvorada e a janela. é tudo o que é bom. de resto, vislumbro luzes e cores e sons e visceras de interiores de corpos avulsos, como as palavras. vislumbro acidente e cansaço mental, muscular talvez. vejo a força a quebrar e o medo nas ruas. cascas de ovos nas estradas e toalhas molhadas atiradas ao chão. olhos secos, cansados. está tudo farto. mas levantam-se todos na mesma e às mesmas horas de sempre. todos os dias. sempre. autocarros atrasados e as horas que passam. metro à pinha e metros de pinheiros queimados nos campos. salas de espera e eu à espera que morra. tiro-lhe a febre. está quente. vale a pena insistir, que o assunto era urgente.

quando não há palavras há...

25-01-2012

serenos

olha, olha. mas olha-me mesmo por detrás dos lençóis. brancos, azuis, ou às riscas bordô. vê-me de frente e diz tudo o que és e quiseres dizer. leva-me a nuca e lava-me a cara. a tua. para que falemos. acorda e enorola um cigarro. ao meu lado. comigo. mas não fumes. abre a janela e escuta-me. sentados no terraço. com a vista detrás e à frente da casa. mais casas virão e verão o que formos. não queiras deixar de aparecer, nem que seja três dias. por enquanto três dias é a vida que somos e temos uma vida e a vida para sermos. seremos. alguma coisa seremos.

03-11-2011

eu.tu.

é na rua que está o inverno. aqui dentro, a cor que deixaste e o cheiro. dou um passo atrás às voltas na mente. é urgente que saia da casa. passo um dia inteiro sem outra coisa na cabeça, a não ser que anoiteça e eu possa trabalhar. rogo-te mil noites comigo. e uma tarde para mim. eu não quero ficar, mas não penso ainda em ir. quero ir quando quiser e ficar para sempre contigo. onde for.

04-10-2011

post.

Se ao longe ecoa uma voz ou um corpo dilacerado, desespera-me a garganta já gasta e o braço cansado. Na nuca uma leve impressão de faca afiada encostada e um nada na mão. E um saco cheio de pedras e areia no chão. Enroladas as duas. E três mulheres nuas. Ontem foi dia de tiros e balas perdidas às quatro menos um quarto da tarde. E um parto numa das camas do hospital, que bem ou a mal hoje arde em chamas. Chama-me tudo e joga comigo este jogo de um para dois. Rompe-me os lençóis e as feridas abertas. Calça-me as meias. E as ruas desertas. Eu vou só por ir. E volto amanhã.

03-10-2011

lu

Lu e escrevo o teu nome. Pego-te na mão e olho-te nos olhos. Como-te o pescoço, desamacio-te a péle. E suamos. Dás uma volta sobre ti e eu sobre mim penso. Deixa-me ter-te para sempre esse teu corpo e as coisas que dizes. Deixa que amanheça e fiquemos os dois só assim. És rua que nasce em poente, ora com trânsito parado, ora deserta e sem gente. És estação de comboio em final de tarde de sexta-feira de Inverno. És os quadros que ainda não pintaste. Mas és luz. És a luz. Cia, e escrevo o teu fim.

27-09-2011

praia

o que é feito da praia que das nossas ideias nos faz esquecer que somos corpos solitários que ao longe se avistam e confundem com o por-do-sol deste sol que é já baixo e mais quente que o outro? o que é feito do mar e do vento e da maresia que enchia estas nossas cabeças de sal e de sol e de cheiro de verão? já lá vai e a água está quente. ainda há gente debaixo dos chapéus de sol e dos toldos de lã. ainda há algodão caído na areia e bolas de sabão atiradas ao ar por sobre estas rochas. ainda há raquetes e bolas e gritos e pranchas. e corpos solitários. e corpos e cheiros. e gente. ainda há gente debaixo de nós. há os meses todos de verão a passar-nos diante dos olhos. ainda há o teu corpo e o teu coração no cotovelo. ainda há um novelo todo enrolado que eu vou puxando e a medo enrolando na mão, já sem medo. ainda há os teus olhos e os meus aqui longe, aí perto e o teu beijo escondido guardei-o na caixa. ainda há uma banda a tocar e outra que vem e outra que foi. o que é feito do castelo de areia e o castelo de pedra caído? partido. o que é feito do agosto, do julho e da tua partida? que se foda o setembro e o setembro a acabar. fecho o mês, as palavras e a caixa. e a praia, que das nossas ideias, guardei-a na caixa também.

20-07-2011

ansie.

madrugada de julho. parece-me uma noite de inverno. visto o pijama e calço umas meias. enfio-me na cama. vejo um filme na cama. sinto-me febril. na cama, deitado. mas a cor é laranja. tenho medo. tenho medo de já não saber quem sou. sinto-me febril. corta-me a ponta do dedo, um bocadinho apenas. tenho medo de já não saber de quem sou. nunca soube. não sou de ninguém. gostava de saber de quem sou. anda cá cortar-me um bocadinho o pescoço e dar-me a mão. sabes de que material é feito este casaco cor de pele que tenho ali ao pé dos sacos? anda comigo cortar as ervas do quintal. mas só se saltares dois capítulos para chegares mais rápido ao fim da viagem. tenho medo de já não saber com quem vou. fico a dormir, não vá o corpo pedir mais um cigarro até ao início.

30-06-2011

.ct

E o céu começa a ganhar contornos de verde, da cor dos teus olhos. As linhas finas que sinto nos dedos são os teus cabelos lisos. E eu não os sinto ainda nos dedos. E eu não sei ainda escrever-te mais porque não sei. Ou sei bem de mais o que quero. Que é querer ver-te.

28-06-2011

história

Para Lá Da Fronteira - história (versão 2) from Pedro Gancho on Vimeo.