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11-03-2011

o que me resta

Tudo o que me resta não é mais do que tempo
perdido e passado e bem gasto.

Todo consumido aos bocados em entradas e saídas
em portas mais estreitas que esta minha solidão
medicamente assistida.

Fui ao mar buscar-te uma luz. Oh cor azul.
Certeza mais reles de corpo encontrado
à deriva nas águas e atracado na areia.

Oh esteira onde te estendo as peles
e te beijo as pernas e os pés.

Renunciaria agora ao paraíso se me prendesses
duma vez por todas os braços e me cegasses a vista.

Não me queimes ainda a casa.
Não me apagues ainda o fogo.

Lá fora está um quintal a arder e em restos de cacos,
poeira das cinzas.

Não me digas quando vens. Aparece-me apenas à porta
de vez em quando e eu vou sempre querer ter-te aqui.

A tua pele é um segredo que guardo
e que todos os dias me conto a mim mesmo.

Já esqueci o que me resta.
Resta-me apenas agora lembrar-me de mim.

31-12-2010

hin.

mesmo sem inspiração eu escrevo. e digo o que penso. que é vago. que é nada. que é som de trovoada e lampejo e de respiração e de som do que vejo. que penso e repenso e que acordo e que um dia num novo ano me acorde e recorde de sempre e do tudo que é longe. que é de uma vez e de um dia só ir e ficar para sempre para lá. para perto daquilo que eu sei que um dia será o que um dia me fará feliz.

07-12-2010

pedra 2.

A pedra que tenho na mão é para matar. É para matar uma coisa que me mata. Que é a minha solidão, que me enerva. Que é eu saber que para sempre sentirei a solidão. E este não doce acordar todos os dias. A solidão nocturna. A solidão dos dias à tarde. A solidão da manhã. A solidão da madrugada. É o saber que só eu sozinho não me chego, mas a solidão ser-me mais forte e querer-me para sempre assim. Sozinho. Comigo só. Mas ela hoje vai morrer. Porque eu vou matar a solidão. E com o seu sangue escreverei o teu nome no chão. Ou não. Talvez hoje ainda não... Mas um dia. Eu vou matar a solidão.

01-12-2010

dez

E eu continuo a deixar que as coisas me caiam à frente dos olhos. Se partam, se desmoronem e se levantem de novo. Se cantem e encantem e se enterrem debaixo do vento e da luz das minhas manhãs não cinzentas. Eu deixo. Aos anos que eu deixo e que eu ergo as paredes entre mim e as coisas que me caem à frente dos olhos. Aos anos de vida que eu penso que quando é que eu acordo e derrubo as paredes entre mim e as coisas. As coisas que caem. Que me caem à frente dos olhos. E eu construo uma estrada. E da estrada só sei onde esta começa e onde esta acaba. Do caminho e dos carros e das curvas da estrada, eu não sei nada. E não sei desta estrada, absolutamente mais nada.

17-11-2010

daTerra

É da terra. Da Terra. da terra.
E da estrada que me leva a esta terra.
E o céu desta Terra.
Da terra. da terra. da terra.

E que merda de terra.
Que nela não passo dois dias
Sem que pense que é dela que quero saír.
Desta terra. da terra. Da terra.

Que me fez esta terra,
Que nela me fiz e que nela
Não sei já ser feliz.
Nesta Terra. na terra.

Da terra eu só saio e só volto.
Já não fico na terra.

E a Terra ficou-me para sempre,
Cá dentro. Uma merda.
E um dia na terra, ficarei eu um dia.
Deitado para sempre,
Também nesta Terra.

Na Terra. na terra.
Da Terra viemos e à terra tornamos.
Dormimos na terra.
Na Terra. Na Terra.

Ficarei eu deitado na terra.
Debaixo da Terra.

na terra.

escolher

despe o casaco e corre comigo por debaixo desta chuva tremenda
e tremendo de frio, abraça-me a ti. que esta chuva só não molha
quem parvo ficar em casa com medo da chuva. e da água.
é ficar agarrado a uma vida pacata e sem mar. e sem sal.
e sem água salgada. que esta chuva é da doce. que cai nestas ruas.
vem comigo e despe o casaco. agarra-me em novo e envelhece comigo
atrás destas palavras. não sei se me equivoco, mas hoje sinto
mais certo que nunca que é debaixo desta chuva
que quero ficar duas horas seguidas. e depois ir contigo para casa,
molhado e secar-te o cabelo e enrolar-me todo ao teu corpo
e encostar-te às minhas costas já quentes. e apertar-te, com força
nas mãos, os teus pés e aquecê-los também. e vestir-te o casaco.
e saír. e calçar-te os sapatos. e saír. e pegar-te na mão. e beijar-te.
e saír. e abraçar-te. e fugir.

frios

onde menos se espera, está uma mão
(gorda como as palavras)
demorada no gesto repousado por cima da perna.

uma mão que me agarra e estremece
com a força toda que do amor
não nos lembravamos sequer

uma mão que me prende de novo à vida
e à vontade dela.

ou ao esquecimento dela e irmos,
de mãos dadas,
para longe.

interludio

quando nos vemos, amor, é o amor todo que nos entra pelos olhos adentro e adentro dos olhos, amor, é o amor todo que nos sai pelos olhos afora, amor, quando nos vemos, amor.

26-10-2010

dormirnãodormir

e hoje não consigo dormir.
por que senn ti.
então escrevo.
ou não escrevo.
ou escrevo só que não escrevo.
e não consigo dormir.

rouco

rouquidão. rouquidão nas ideias é aquilo que sinto. e minto que sinto rouquidão até nas palavras que digo e nas que não digo ou que penso dizer mas mais tarde. rouquidão que me arde a garganta e levanta a cabeça e caminha até mim outra vez. desta vez com mais força e solta-me os braços que eu estou aos teus pés. tu não vês. o mar é o medo que eu tenho. e rouquidão. e uma grande certeza daquilo que fomos e que me arde a garganta e a cabeça e todo o meu interior deste corpo que eu guardo e só ardo para ti.