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16-08-2010

poste

E tu esperas por mim enquanto eu me encosto a uma pedra, rochedo gigante que se me rebola por cima, esmagando-me o corpo e a alma e os olhos da cara, para que te não veja a ir embora, sem esperares por mim.

choro

Por não conseguir chorar por nada. Ou por tudo o que me fez chorar até hoje. Como as saudades que sinto até ao nó. E que me secam a garganta de vos querer vivos e aqui ao pé do que fomos e seriamos (não fosse o ponto final). E choro pelos pontos todos finais que até hoje me fizeram chorar. E até pelo que já não me faz chorar eu choro. Não choro. Por conseguir não chorar por tudo. Mas choro.

17-07-2010

não conto

Conta comigo que eu conto de três até dez. Soma um aspecto e a duas cabeças, aperta-me a mão que eu aperto-te os sonhos, até deles nada restar a não ser o que deles fizeres. Agora, abraça-me. Com força e sem medo das palavras, que ninguém te vai ouvir. E se ouvirem, não ligues. O que importa que saibam o que dizes, se o que dizes é do fundo da tua existência? Ninguém te vai ouvir. Leva-me contigo ao mar e do mar saíremos os dois para um lado qualquer desta vida. Enroscar-me-ia no teu corpo até nunca acordar. Sinto que o teu corpo é sítio onde dormiria bem para sempre.

não sinto

não sinto um ar da madrugada. não sinto nada.

não sinto que sinta uma luz a queimar ou um ponto na luz da escuridão cerrada.

não vejo que veja tudo bem comigo. não sinto. não vejo nada.

não sinto que venha mal algum ao mundo por isso, ou por isto, por aquilo. por nada.

errado. só sinto. só minto. só vejo. e vejo o que quero quando acordo assim.

e para aí virado.

não vejo que sinta que minta ou que queira dizer mais nada.

mas calo-me quando escrever que sinto - já calmo e certeiro - o ar.

da madrugada.

não sei

quando não sei lidar com a felicidade, abro um grande buraco que me suga tudo. depois, volto a tapar o buraco e construo-lhe em cima um monte de entulho. passado algum tempo, queimo o monte de entulho. e vou para outro lugar.

01-07-2010

não sei se é da tua pele

Mas sei que as palavras não me saem ao ritmo de antes.

22-06-2010

o ano em que a conheci

foi o ano em que a morte se esbarrou em mim. não comigo, mas em mim. não a minha, a dos outros, que eu só conhecia vivos e que toda a vida só com vida os tinha visto a viver. os que aprendi a ver a falar e que a falar me ensinaram como viver. a morte é um ponto final nisto de estar vivo. mas agora percebo que estar vivo não basta para se estar a viver. aprendi isso com aqueles que vi sempre vivos e a viverem e que este ano morreram. e continuam vivos. é que a morte também não basta para se deixar de viver...

13-06-2010

eu poesia não procuro

A não ser um pouco de poesia nos gestos de alguem. Ou um pouco de um verso nos lábios molhados e uma boca a declamar as palavras de um texto. Poético. Não procuro palavras num corpo deitado na cama a meu lado. Poeticamente deitado. Eu procuro uns cabelos e uns olhos e mãos já tocados. Pela coisa a que chamamos, poeticamente, Amor. Procuro antes um corpo que queira, poeticamente, outro corpo. E uma mão que, poeticamente falando, me queira agarrar nas palavras todas da sala e que silenciosamente façamos barulho acordados. Poeticamente até de manhã!

01-06-2010

visto do lado de fora

Gostava de ter-te para mim. Como quem tem algo não seu, mas que é seu de livre vontade. E que com a vontade bem livre das presas ideias já feitas das vidas de pares, formassemos mesmo um par de um mais um e de duas pessoas com muito em comum. Fossemos simplesmente andando em frente por caminhos iguais e que nos encontrassemos ao fim de tarde na ponte. E que na vista da ponte para o rio, vissemos juntos os dois o fundo desta cidade. E que no fundo do mundo, dançassemos perto um do outro e sem ligar à idade. E que nos agarrassemos sempre e ao darmos as mãos no passeio e no parque deitados, dormissemos juntos em camas diferentes. Mas sermos iguais e os dois para sempre um do outro. E não sermos nunca de ninguém a não sermos os dois, um mais um, de nós próprios.

25-05-2010

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