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12-02-2006

dúvida

A dúvida persegue... A dúvida mata. A dúvida enrola-nos e queima... A dúvida é fodida. A dúvida não tem dúvidas e sabe não duvidar ela mesma de si. Mas teima em duvidar-nos a vida. E a mente, sua eterna aliada neste jogo. Que é lento e mortal, que mata aos poucos. Por dentro. Que vai doendo e corrói... E mói... Dói! Que dúvida, esta vida…

08-02-2006

o quarto

O quarto naquele dia encontrava-se assustador. O silêncio das palavras enregelava os corpos presentes. As ideias subentendidas e adivinhadas na ausência de barulho iam ganhando uma forma cada vez mais assustadoramente real.
Quase nada disseram. Mas o pouco que falaram e disseram ali ficou. Entranhou-se nos lençóis da cama e sujou aquelas quatro paredes outrora brancas.
Se fosse possível ele ficaria naquele quarto para sempre, sem mais nada a dizer, sem mais nada a falar. Permaneceria apenas deitado, quase lívido naquele estrado.
E nessa morte profunda viveria para sempre, ainda que não estivesse morto, ainda que nem vivo parecesse.
Aquele quarto era a sua vida. Ele não lho disse, mas ela também era a sua vida...

30-01-2006

onde vais?

Onde vais?
Pergunto-te em tom interessado
que fardo, encostas
carregas às costas de lado
os passos, que passas, que vês?
É longe? Mas onde?
Responde...

E o mar, onde fica?
Onde vais? O que vês?
Não vás! Fica aqui
Vai, deixa-me ver-te
pudesse eu fitar-te e verias,
como te quero.
E quero.
Que vás! Apanhei-te
E onde vais?
Que te quero...

apetece-me fumar-te

apetece-me fumar-te
apetece-me enrolar-te
aconchegar-te na mortalha
e acender-te

apetece-me fumar-te
sugar-te as entranhas
sugar o que és
e expremer o teu sumo
em forma de fumo
fumar o que és

apetece-me fumar-te
queimar-te, queimar-me
e o fumo que fazes é a voz do teu fundo
e o teu fundo é o fumo todo do mundo

apetece-me fumar-te
aclamar-te nas mãos,
agarrar-te entre os dedos,
afagar-te em mim,
proteger-te dos medos

apetece-me fumar-te
nunca mais te apagar,
não quero cinzeiro,
não quero acabar

apetece-me fumar-te
e fumar-te outra vez
e de tanto fumar,
ser eu as cinzas que vês

tenho o teu fumo no rosto
que alastra e se expande
sinto-te em todo o meu corpo
e é bom. e eu gosto

e acendo um cigarro
ainda com fumo na face
faço outro
acendo-me em ti
pode ser que passe