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22-06-2010

o ano em que a conheci

foi o ano em que a morte se esbarrou em mim. não comigo, mas em mim. não a minha, a dos outros, que eu só conhecia vivos e que toda a vida só com vida os tinha visto a viver. os que aprendi a ver a falar e que a falar me ensinaram como viver. a morte é um ponto final nisto de estar vivo. mas agora percebo que estar vivo não basta para se estar a viver. aprendi isso com aqueles que vi sempre vivos e a viverem e que este ano morreram. e continuam vivos. é que a morte também não basta para se deixar de viver...

13-06-2010

eu poesia não procuro

A não ser um pouco de poesia nos gestos de alguem. Ou um pouco de um verso nos lábios molhados e uma boca a declamar as palavras de um texto. Poético. Não procuro palavras num corpo deitado na cama a meu lado. Poeticamente deitado. Eu procuro uns cabelos e uns olhos e mãos já tocados. Pela coisa a que chamamos, poeticamente, Amor. Procuro antes um corpo que queira, poeticamente, outro corpo. E uma mão que, poeticamente falando, me queira agarrar nas palavras todas da sala e que silenciosamente façamos barulho acordados. Poeticamente até de manhã!

01-06-2010

visto do lado de fora

Gostava de ter-te para mim. Como quem tem algo não seu, mas que é seu de livre vontade. E que com a vontade bem livre das presas ideias já feitas das vidas de pares, formassemos mesmo um par de um mais um e de duas pessoas com muito em comum. Fossemos simplesmente andando em frente por caminhos iguais e que nos encontrassemos ao fim de tarde na ponte. E que na vista da ponte para o rio, vissemos juntos os dois o fundo desta cidade. E que no fundo do mundo, dançassemos perto um do outro e sem ligar à idade. E que nos agarrassemos sempre e ao darmos as mãos no passeio e no parque deitados, dormissemos juntos em camas diferentes. Mas sermos iguais e os dois para sempre um do outro. E não sermos nunca de ninguém a não sermos os dois, um mais um, de nós próprios.