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29-11-2009

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quanta crueldade se encontra nas palavras que não dizemos e dizemos mais tarde quando o tempo devia calar o que nos vai na mente, no coração que é já calmo e nas ondas do mar. quantos gestos desfeitos e palavras escritas, mortalhas, papéis enrolados que eu não guardo para sempre, que me enrolam as voltas que a cabeça me dá. quantos dias nos faltam para sermos de novo os dois corpos escritos e feitos para sempre? quanta gente me falta que me encha a mente de ideias diferentes das tuas e que eu veja na rua outra luz que não tu? quantos olhos os olhos que vejo me farão ver mais de perto a certeza que tu ainda és para mim? quantas mais vezes terei eu de calar o que me vai aqui dentro para que a crueldade do teu silêncio me faça calar para sempre também?

25-11-2009

o que fica

E fica um nó qualquer, não sei onde, talvez na garganta, vazia. E um frio quente cá dentro e um vazio. Fica uma mão qualquer agarrada, ou não, já nem sei. Fica uma mente repleta de merdas confusas. Fica um claro pensamento acerca de ti. Fica um gesto cansado e um adeus até sempre. Ficam os olhos e uma força tão estranha e a vontade tão certa. Fica um abraço. Fica muito mais que um abraço. Fica muito mais do que isto. Fica tudo o que resta dizer.

07-11-2009

três

trago um papel embrulhado no bolso para te dar há três meses. queimo-o amanhã. abro a janela. e fecho a porta. não necessáriamente por esta ordem. a ordem das coisas está trocada. a viagem que faço de carro deixa-me melancólico. mas a estrada é bonita e lembra-me que não te disse o que te queria dizer. sinto a chuva que cai nos vidros como feridas no corpo. a verdade é que me deixam mais calmo estas feridas no corpo. não sinto que sinta tristeza. é só um vazio qualquer que não se explica por palavras escritas. não explico assim o que sinto. há um bocadinho de ti em tudo o que faço. e sinto-o. embrulho outra vez o papel e guardo-o no bolso durante mais três meses.

contrário

sinto-me a andar ao contrário do mundo
em linhas tortas, direitas. num sono profundo.

o desejo é sempre uma força contrária, mas a força.
essa altera-se com os dias que passam.
eu passo-os bem. mas ando ao contrário.

alterno euforia com o espaço mais calmo da casa
e tenho uma asa ferida. voo ao contrário.

ao contrário de mim, estás tu também.
não voltes agora para trás nesta estrada perdida
volta para mim se fores em frente. ao contrário.

01-11-2009

claros

Sobre o amor, farei duas ou três considerações... Quando me olhares novamente nos olhos. Quando te encontrar de novo na rua e te perguntar desta vez se os teus olhos serão meus, pelo menos uma vez. Queres passear comigo? Ou fumamos apenas um cigarro? Um cigarro não seria apenas um cigarro contigo. Dar-te-ei a mão. Mas não falarei muito. As duas ou três considerações que farei acerca do amor serão sem palavras. Só os gestos e as palavras mudas direi. Também te afagarei o cabelo. Dás-me a tua mão? Quero sentar-me contigo num banco qualquer de jardim, ou de estrada. Quero ver contigo os carros que passam. Quero uma música nossa. Quero mesmo fumar um cigarro contigo. Quero ver-te na rua a andar. E como tu andas... O teu passo é um gesto delicado de pássaro livre. Quero ver-te sozinha, como quem vê Lisboa num fim de tarde de Outono quente. Quero encontrar-te sem gente. Quero mostrar-te a cidade. Esta cidade e a outra. Tu já és a cidade. Quero viajar contigo. Quero um livro emprestado para me poder encontrar contigo mais vezes. Quero encontrar-me contigo todas as vezes. Olha-me assim. Olha-me como ontém. Olha-me. Sofro do mal da incompetência. Olha-me. de Amar. Os teus olhos.