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09-01-2008

espelho

Gosto quando me olho ao espelho. Feito feio
Desfeito e feito de cérebro aberto
E o que se passa cá dentro
No seio do que importa
Só eu e o reflexo da face

Feito posto de escuta e a luta interior às avessas
Feito homem a colar as peças que juntas me formam
Desde os pés à origem de ideias
Dito e feito resumo o meu Eu ao espelho
Feito velho que olha p’a trás e só faz que sim com a cabeça
Que só pensa no que não fez e o que fez também dá que pensar
Feito a jeito e o peito inchado de ar
Ou os olhos vermelhos de quase chorar
Com tamanha emoção

Aqui estou a olhar mais um dia
E é só letargia o que vejo no rosto
Feito grande
Feito gente
Feito tudo o que sou
Feito homem normal
Feito hipócrita, como é habitual
Feito muito sincero
Sou só eu, ou serei tu também?

Saio da frente do espelho
Volto a mim

janeiro

Dei por mim a pensar
Nas doces manhãs de Outubro
Como quem enrolava um papel
Ou escrevia uma lembrança na parede

O café ainda cheira a maçã
E o ar a dobrar-se para nós

É a voz que é de vós para mim
E assim só pensei mais um tanto

Dei por mim a encontrar esse dia
Mais o sabor dos teus lábios
Só por mim a sonhar, quem diria
Momentos de vida mais sábios

Ou reler outra vez os textos todos
O assombro que são os teus olhos

Espero antes cantar quando o sol já se estiver a pôr
Espero sempre um tardar sem luar ou cheio de lua
Quero dor. Quero amor

A mulher que se encontra na rua
É fruto e reduto da tua imaginação.
Não te encontres com ela às cegas
Que cegas mal chegues a casa
Dói-te a asa, decerto
O deserto é agora,
A gota de água virá a seguir.

no banco de pedra

No banco de pedra
Encontrei harmonia
Ficaste de vir ter comigo às 11horas
Agora é meio-dia

Dia a meio que avança
E a espera que atrasa

E eu o que fiz?
Deixei-me ficar, ansioso, zangado
Mas abriste os teus olhos
E eu, o que fiz?

Aquele olhar que não queima
Aquela mão que não toca
Aquele lábio que cola
Aquela sombra que passa

Não sei mais que fazer
Entre tanta harmonia
E no banco de pedra
Passei mais um dia

a história da cereja e do pato...

… É uma história que em poucas linhas se conta, não mais. O pato tinha na sua passagem a forma de andar que só aos patos se vê caminhar. O pato era chato, era dos patos normais. O pato não gostava do sabor da cereja e nunca pensara encontrar uma que lhe parecesse realmente boa cereja para saborear. Já a cereja sabia que não encontraria num pato alguma razão para de qualquer tipo de pato gostar. A cereja era exigente e intransigente nos amigos escolhidos.
Quando o pato e a cereja se viram pela primeira vez, o pato nem deu grande importância à cereja. Mas notou que era pequenina a cereja. E bonita. A mais bela cereja que vira, mas sem importância seguiu.
O que é certo é que o pato e a cereja viveram aquilo a que se chama a história perfeita entre dois seres amantes. O pato não sabia já que era um pato e a cereja esquecera-se durante alguns anos que o pato era, de facto, um chato.
O pato e a cereja tinham a mesma forma de ver o amor. E foi isso que em anos juntou a cereja e o pato. Foi, porém também foi isso que os separou. E o pato voltou a ser chato e a cereja deixou de encontrar no pato razões para dele gostar.
Uma coisa ainda não dita é que o pato com asas nunca antes tinha voado. Até que a cereja mostrou ao pato, que é ave, a verdadeira arte do voo picado. E ambos voaram. E a verdade é que o pato ficou eternamente grato à cereja por esta o ter ensinado a voar. E ele até acha que dificilmente voltará a voar tão alto como quando voava com a cereja às costas. Como eles os dois a voarem tão alto, é coisa que o céu não voltará a ver. A não ser que um dia, a cereja e o pato se lembrem de juntos voltar a voar…