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20-01-2010

hoje apetecia-me pôr-te em palavras

falta de originalidade talvez.

e estar naquilo que vês. e não vês.

pousar na tua janela e ficar,

todo empoleirado

e dormir ao teu lado.

acordar.

 

despir a roupa toda que trago

e escrever um só verso

como este. e o outro que vem.

se eu não fosse tão vago.

e tocar-te também.

 

percorrer um caminho

uma estrada.

uma serra só nossa coberta

cobertor feito de azul

uma pena da tua almofada

um lençol

ser a roupa estendida na chuva

e uma noite comprida de sol.

 

deparei-me, hoje sim.

com um sinal vermelho ao fundo da rua

sou um canteiro no cruzamento com a tua

a brotar uma flor e um som que é de Fim.

 

encontrei-a no cruzamento das linhas

e uma linha bastava.

escreveria acerca da idade.

e hoje apetecias-me.

que falta de originalidade.

06-01-2010

jazes

quando eu morrer, quero morrer como um homem. quero morrer como tu.
não na mente moribunda. mas na força. mas na insistência.
e na teimosia de te agarrares a esta vida. mesmo que de merda.
mesmo com este mundo de merda.
não há nada para além da morte. e eu não sei lidar com a morte.
hei-de aprender a lidar com a vida.
invejo-te a coragem inconsciente de um corpo que manteve uma vontade qualquer.
quando eu me for, não me quero ir assim aos bocadinhos.
não me quero ver prostrado numa cama. porque eu tenho medo.
já tu, nunca temeste. e seguraste-te a tudo.
e a ti. e a mim. e a nós. e a todos.
quero morrer com a tua mão agarrada à minha.
e quero a vida toda que me mostraste.
quero o teu sorriso agarrado sempre ao meu corpo.
quero a força dos teus braços e a vontade das tuas pernas.
há já cinco anos que tenho vindo a sentir saudades de ti.
e vou sentir-te para sempre.