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28-01-2007

função ou disfuncionalidade

Esvaziar os sentidos
E voltar a encher depois
Não é coisa fácil
Se quiser escrever com facilidade
Ou pressa
A verdade é que não interessa
Sequer dizer algo que interesse
O interesse está precisamente na disfunção
Da funcionalidade do escrever
E qual é, no fundo a função de tudo isto?
Não há, ou eu não a sei.
A minha função ao escrever
É tentar descrever aquilo que quero dizer
Sem ter de o dizer.
Só o facto de parecer
Que é o que quero dizer
É o mesmo que já estar a dizer
Mas sem, no fundo, dizer
Alguém me dará um parecer?

02-01-2007

a segunda p'rá saudade

Só no mundo que não vive de luz que se veja, te vejo. Isto é só a falta que fazes. O resto é o que sei. Que desvelo o teu cabelo de longe, o abraço como sempre do lado daqui, esperando que aí, te mantenhas tão firme como firmes estão essas gentes, que cantam geladas em torno da cruz. E o processo da escrita não vem ao sabor dos pensamentos de ti. Viesse e eu escreveria tão mais que te cansarias, de certo, do que te diria. Assim, até ao dia em que te cansares, eu sigo a pensar-te.

a primeira p'rá saudade

Comecei a escrever no outro dia umas palavras que não acabei por falta de astúcia ou só por falta de saber. A falta do saber é grave, para quem pede aos outros que saibam. Pois aqui me confesso – eu não sei nada. Já a falta de astúcia, não é tão fatal, mas se esta não há, para que teimo em escrever? – a tossir, puxo de um cigarro que faço. Era de astúcia que precisaria se quisesse cantar-te a saudade. Mas a saudade não é coisa que se cante sem música de fundo. Ou de frente, com a própria sinfonia a fazer de saudade. A música e as palavras que escreves melhor que eu. As coisas que dizes, que mostras. Não que cantes a saudade, será que a cantas? Eu acho que sim. No entanto, trata-se aqui da minha saudade, não da tua, mas é a saudade de ti…